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Ao pretender delinear a inegável influência de Sigmund Freud neste tumultuado século XX, o comitê organizador do evento em sua homenagem, cujo projeto foi iniciado em 94, teve que contornar dificuldades financeiras e tórridos debates sobre a atual relevância da Psicanálise, desencadeados por cinquenta de seus detratores, numa petição assinada em 95. Planejada para 96 e adiada por dois anos, a exposição foi inaugurada em outubro/98, curiosamente durante as considerações sobre o 'impeachment' de Bill Clinton. Após três meses na capital dos Estados Unidos, incluindo depois Nova York e Los Angeles, decolou do circuito doméstico, rumo ao seu roteiro internacional. Nas comemorações dos cem anos da publicação de A Interpretação dos Sonhos (1900), chega a São Paulo, permanecendo no MASP, de 10.10 a 17.12.00, a exposição ¨Freud: Conflito e Cultura¨, pertencente à Biblioteca do Congresso de Washington, que possui o maior acêrvo do mundo sobre o Pai da Psicanálise. A mostra é resultado de uma realização conjunta com o Museu Freud de Londres e Museu Sigmund Freud de Viena e compõem-se de três grandes blocos:
Michael Roth, curador da exposição, é autor de Freud: Conflito e Cultura: Ensaios sobre sua Vida, Obra e Legado (1998). O historiador esclarece que o propósito da exposição é mostrar que, apesar de Freud sempre ter sido objeto de controvérsias, sua influência na história intelectual deste século é irrefutável. À luz da cultura ocidental, tão irremediavelmente permeada pela linguagem psicanalítica, pode-se dizer que, até certo ponto, todos são freudianos. Acrescidas de novas contribuições teóricas, como as de Klein, Bion, Lacan, Winnicott, Kohut e tantos outros, que multiplicaram as possibilidades de percurso da Psicanálise, muitas das formulações fundamentais de Freud, especialmente aquelas sobre o inconsciente e a sexualidade infantil, permanecem incontestáveis. Longe de ser obsoleta, a Psicanálise atravessa estágios iniciais de evolução, devendo ser enriquecida por contribuições científicas multidisciplinares. O lento progresso dos conhecimentos sobre o funcionamento psíquico contantemente desaponta a atmosfera PROZA-ica da modernidade que, para aliviar mazelas emocionais, busca 'soluções' cada vez mais rápidas, frequentemente desacompanhadas de insight e auto-realização. Acirrados críticos, bastante divulgados nos meios acadêmicos internacionais, vêm elaborando teses implacáveis sobre uma propalada carência de cientificidade e coerência interna da obra freudiana; tentam denegrir a ética profissional de Freud e atacam a técnica por ele empregada. Na visão reducionista dos autores, as exaustivas elaborações do mestre são meras especulações, as quais só teriam servido à sua vaidade e supostos desejos desmedidos de poder. Fica evidente que, ao desejarem enterrar o pensamento do gênio de Viena, a engenhosidade intelectual desses autores, abaixo mencionados, não garante que possuam alto quilate de apreensão emocional.
Em defesa de Freud, acorre Jonathan Lear, Psicanalista e Professor na Universidade de Chicago, autor de Open Minded: Working out the Logic of the Soul (1999). A propaganda, dependendo do vértice escolhido, pode ser a alma ou o espectro do negócio... e todos sabemos quão perigosa é a alienação. Que adeptos e depreciadores sobrevivam às ondas revoltas de indignação e sejam co-autores do périplo psicanalítico no século XXI. Até mesmo uma carnificina intelectual ainda faz parte das sublimações e, por mais cruel que seja essa guerra, pouco se compara ao nazismo que assombrou, na época, o octogenário cidadão do mundo. As 'Obras Completas', ao iluminarem os processos mentais, muitos deles inclusive responsáveis por sua criação, não só ainda merecem, como clamam por um contínuo labor hermenêutico de pensadores com o mesmo fôlego de Sigmund Freud, cujo sonho, revelado à humanidade, continuará a ser objeto de infindáveis e perturbadoras interpretações. |