A histeria é uma neurose de conversão caracterizada por sintomas físicos (dormência/paralisia de um membro, perda da voz ou cegueira), quando a pessoa desfruta de plena saúde física.
O neurologista francês, Jean Martin Charcot, interessado no tratamento da histeria, a qual considerava como uma verdadeira moléstia que atingia a homens e mulheres, tentou livrar seus pacientes de pensamentos indesejáveis, através de sugestão hipnótica.
Joseph Breuer, médico vienense, também adotava o procedimento da hipnose, não apenas para suprimir sintomas, mas também para descobrir as causas profundas do sofrimento de seus pacientes. Ele percebeu, durante o tratamento da jovem "Anna O." (1880-82), que os resultados tinham um alcance muito maior, ao lhe permitir contar seus pensamentos e sentimentos. Ele chamou de "auto-hipnose" os estados alterados de consciência de Anna, a qual denominou de "cura pela fala" o processo que levava ao desaparecimento de seus sintomas, toda vez que ela conseguia se lembrar dos acontecimentos que os originara.
Durante seus estudos com Charcot (1885), Freud praticou e observou o emprego da hipnose. Em seguida, tornou-se colaborador de Joseph Breuer. Enquanto progressivamente delineava sua teoria sobre a mente, Freud considerava a hipnose mais satisfatória do que a eletroterapia que havia experimentado até 1890.
Através da hipnose, os pensamentos e as lembranças ligadas aos sintomas chegavam eventualmente à consciência. A 'catarse' (purificação, em grego) ocorria através de uma descarga normal de afeto; apesar desse fato, os sintomas tendiam a ser recorrentes.
Primórdios da Psicanálise
Breuer e Freud publicaram suas descobertas e teorias em Estudos sobre a Histeria (1895). Consideravam que os sintomas histéricos ocorriam quando um processo mental caracterizado por intensa carga de afeto ficava bloqueado, impossibilitado de expressão, através da via normal da consciência e dos movimentos. Esse afeto 'estrangulado' percorria vias inadequadas e derramava-se sobre a inervação somática (conversão).
Os autores afirmavam que esses sintomas, substitutos de processos mentais normais, tinham sentido e significado, sendo causados por desejos inconscientes e lembranças soterradas. Dado que essas ideias patogênicas, descritas como traumas psíquicos, eram oriundas de um passado remoto, as histéricas sofriam de 'reminiscências' que não tinham sido elaboradas.
A pedra angular dessa teoria era a hipótese da existência de processos mentais inconscientes, que seguem leis que não se aplicam ao pensamento consciente. Posteriormente, um entendimento mais aprofundado desses processos viria a esclarecer produções psicológicas previamente incompreensíveis, como é o caso dos sonhos.
A Regra Fundamental
Considerando a hipnose inadequada, Freud aprimorou os métodos de Breuer, baseado numa crescente compreensão clínica das neuroses. Ele percebeu que o êxito do tratamento dependia da relação paciente x médico, cabendo a este tornar consciente o inconsciente.
Desenvolveu-se uma relação inteiramente nova entre paciente e médico, a partir de uma mudança na técnica, e os surpreendentes resultados, assim obtidos, estenderam-se a muitas outras formas de neurose. Em 1896, Freud denominou esse procedimento de Psicanálise - a arte da interpretação.
Freud considerava que pensamentos perturbadores e anseios conflitantes eram mantidos inconscientes (repressão), mas mesmo assim causavam fortes sentimentos de culpa e intensa ansiedade, interferindo na atividade mental consciente, consumindo energia psíquica vital em busca de liberação. Por serem incompatíveis com os padrões normais do indivíduo, este se sentiria compelido a defender-se contra essas ideias intrusivas e a liberação desses impulsos, a fim de manter seu equilíbrio interno (mecanismos de defesa)
Como Freud acreditava na sobredeterminação dos eventos psíquicos, supondo que todas as lembranças estavam organizadas numa rede associativa, de forma que uma recordação levaria à outra, e considerando possível recuperar e compreender lembranças cruciais estando consciente, Freud insistia para seu paciente lhe dizer tudo que lhe ocorresse à mente (associação livre), a despeito de quão irrelevante ou potencialmente embaraçosa a ideia pudesse lhe parecer.
Ao entregar-se à sua própria atividade mental inconsciente (atenção flutuante), Freud acompanhava o fluxo inconsciente das produções mentais do paciente, a fim de estabelecer conexões entre o fio associativo das comunicações alusivas e as lembranças esquecidas.
Ocasionalmente, o paciente poderia omitir o material considerado absurdo, irrelevante e vivenciado como desagradável e precisamente essa lacuna na comunicação revelaria que a associação era evitada (resistência) devido ao seu potencial evocativo para trazer lembranças submersas à superfície da consciência, tornando emergente o significado oculto, previamente inacessível.
Freud notou que, na maioria dos seus pacientes, o material mais frequentemente reprimido estava relacionado às ideias perturbadoras referentes à sexualidade. Em 1897, percebeu que, ao invés de serem lembranças de acontecimentos reais, esses eventos eram resíduos de impulsos e desejos infantis (fantasias). E concluiu, portanto, que a ansiedade era consequência da libido reprimida, a qual encontrava expressão em vários sintomas.
Em contato com vivências internas, num estado de regressão, o analisando passava a se relacionar com o analista, como se este fosse uma figura do seu passado (transferência), frequentemente revivendo com grande intensidade emocional 'eventos' esquecidos de longa data.
Freud, então, comunicaria a ligação entre as fantasias e sentimentos do analisando pelo analista e a origem desses pensamentos e emoções nas experiências da infância do paciente (interpretação). Essa intensa vivência dos conflitos originais era um processo doloroso para o paciente, mas a elaboração desse sofrimento emocional (insight) tornava o tratamento eficaz, devido a um novo equilíbrio e distribuição de energia psíquica, promovendo uma reorganização das estruturas psicológicas, com configurações mentais mais saudáveis.