VARANDA DE SÃO CONRADO

Tão contagiante, essa flauta de Pan.
Fazendo as borboletas dançarem
no leito dos rios.
Tão bonito, esse olho de vidro dos sapos.
Prestando atenção nos moinhos
que giram nas montanhas.
Tão chato, essa mulher em casa.
Fazendo comida e lavando roupa, sem muitos direitos.
Enquanto a patroa passeia nos shoppings espelhados.
Tão brilhantes, esses fios d'água.
Indiferentes às nuvens que passam
e tomam forma de deuses de trança e de monstros
apocalípticos...

Tão verde, essas samambaias.
Presas em vasos tão pequenos, mas cheias de vida e energia.
Tão amigos, esse lápis e esse papel.
Que destróem minhas máscaras
e me levam ao surreal.
Tão livre, esse Ícaro que sobrevoa minha varanda.
Me fazendo lembrar que não precisamos de asas...

Tão forte, esse astro de 5a. grandeza.
Nos iluminando e aquecendo incessantemente.
Mas cansado de ver guerras, cansado de explicar o amor...

Tão triste, os carros, o mundo lá embaixo.
E essa dificuldade de desapegar, de transcender...



Paulo Garcia/Psicólogo (RJ)
do livro "Brotando das Palavras" (1987)
gentilmente enviada em 02.03.99
Poesia&Imagem