DERIVA

Era um sábado.
Como outro qualquer.
Com os mesmos mistérios, as mesmas certezas.
Era um sábado de tamborins cansados,
que ainda repicavam na avenida,
no resquício de uma semana de sonhos.
Acordar era preciso,
mas a luz do dia tardava com seu brilho inocente.
Era um sábado sem ventos.
Minha nau errava pelo oceano dos trópicos,
sem âncora nem tripulação.
Meus gestos, minha sílabas e fonemas
não eram mais poemas. Eram cenas.
Era um sábado.
Sem faróis e lençóis.
Indeciso sobre si mesmo, mas que intuía.
E à flor da pele, sentia a mudança das marés.
Era um sábado quando avistei tuas terras
em ilhas cintilantes.
E em meio aos confetes, vi teu sorriso
revelando as rotas por onde eu nunca navegara.
Teus olhos eram bússolas precisas.
Tinham paz, não mentiam.
E apontavam um porto iluminado e seguro.
Era um sábado,
quando ouvi tua voz.
Podia aprisionar os deuses da dúvida
e a tristeza dos que não navegam pelas estrelas.
Falava por mim.
Era um sábado quando percebi teus sinais
e ancorei.
Mas nada sei, do futuro.
Os náufragos sempre amarão quem os salvam.
Era um sábado,
quando amei...