TERRORISMO | ||
Muito se tem refletido e muitas tentativas têm sido feitas, no sentido de se buscar no arcabouço das teorias psicanalíticas uma conceituação mais abrangente sobre o que possa ser o fenômeno do terrorismo na Cultura. Evidentemente, ninguém teria necessariamente que se preocupar com esse assunto, se estivéssemos apenas lendo livros sobre a História da Humanidade e, simplesmente, acompanhássemos a evolução psíquica da espécie, desde os tempos das cavernas até os dias de hoje, por puro diletantismo. Se terrorismo estivesse ligado apenas aos povos bárbaros e primitivos (e a antropologia jamais equacionou primitivo=terrorismo), o interesse pelo tema poderia ser meramente acadêmico. No entanto, para a perplexidade dos tempos modernos, o terrorismo é absolutamente atual. Este Mal se apresenta nas mais variadas áreas do planeta e pode até (pasmem!) apresentar-se na vizinhança mais abastada. Portanto, supor que terrorismo obrigatória e necessariamente seja a conseqüência da pobreza, da falta de estrutura nas áreas da Saúde e da Educação é um grande erro. É mais correto inserí-lo no quadro da psicopatologia dos delírios de poder e arrogância. O terrorismo é decorrente da paulatina desestabilização e falência das funções mentais mais nobres, por assim dizer, e pode ser expresso até mesmo por milionários, políticos, intelectuais, empresários, etc. Através de um malabarismo de racionalizações, esse tipo de funcionamento mental, se não tenta justificar, com certeza tenta encobrir as evidências de suas más intenções e seus métodos corruptos e inconfessáveis, os quais sempre têm um propósito, um alvo, um foco bastante definidos As camadas sócio-econômicas menos privilegiadas, no mais das vezes, tornam-se massa de manobra para que tais líderanças possam minimizar o grau de auto-exposição e evitar arcar diretamente com as conseqüências deletérias de seus atos. Porém, óbviamente, nunca se sabe ao certo sobre as nefastas e tumultuosas ondas de sublevação e anarquia que poderiam se originar espontaneamente, no âmago desses movimentos caóticos. Terrorismo nada mais é do que uma modalidade extremamente arcaica, enlouquecida mesmo, de tentar resolver conflitos emocionais que o indivíduo, grupo ou nação tenham que administrar. Quando a economia psíquica se desestabiliza ou nem tenha atingido um razoável grau de integração, não se consegue encaminhar qualquer problemática a uma convergência de possíveis soluções, através de meios legítimos, respaldados nas instituições que estruturam a civilização. Apesar do terrorismo se constituir num método de confronto bastante ignorante, pode-se constatar uma grande fonte de ruído belicoso, em meio à toda a parafernália usada pelo 'terror terrorista', proveniente também de mentes bem dotadas intelectualmente, MAS que padecem de variados graus de desagregação emocional. Quais seriam os objetivos do terrorismo? Numa palavra - destruição - de tudo aquilo que é invejado e desperta a ganância e, paradoxalmente, terror também. E, nesse sentido, a arma principal é a crueldade, inata nos seres humanos, a qual, em condições normais, é subtraída do comportamento habitual, permanecendo inscrita nos substratos psíquicos mais profundos. Não se deve confundir crueldade com sadismo, o qual está estreitamente ligado à sexualidade, mesmo em suas manifestações mais rudimentares. A violência não deve ser confundida com agressividade, a qual também está intimamente ligada à libido e é necessária à sobrevivência. Curiosamente, a violência decorrente da crueldade pode ser ativamente expressa ou pode apresentar uma face dissimulada, "passiva", como a tortura do constante pingo d'água na cabeça. Existe a possibilidade de se colocar um fim nesses ataques terroríficos? A crueldade pode ser modulada? A resposta é complexa. Todos sabem que violência insufla violência. Nesse contexto, procurar se socorrer apenas de meditação não seria o suficiente. A mente pode se esfacelar, tentando dar conta de provocações sobre as quais tem pouco ou nenhum acesso ou controle. No entanto, como as emoções são extremamente contagiantes, aquilo que é da alçada individual pode paulatinamente ir contaminando pequenos grupos e até as massas, quando os pratos da balança social podem repentinamente adquirir motu proprio e oscilar de forma frenética, pondo a própria estrutura em perigo. Não seria sensato detectar esse mal, tão logo seja prenunciado, ao invés de se apelar para a indiferença, o cinismo, a hipocrisia, a mentira, a manipulação? Creio que a resposta a ser dada depende dos rumos individuais, grupais, nacionais, internacionais que venham a ser percorridos. Um contexto violentador jamais é indefinidamente tolerado e as conseqüências não tardam a surgir. Seria um ledo engano supor que a curto, médio ou longo prazo se poderia tirar qualquer vantagem desse modus operandi. O terrorismo traz perdas incalculáveis, em todos os níveis. |
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Atelier de idéias | Este artigo em inglês | Copyright ©1998-2002, by Maria Helena Rowell (11.02.02) |