Mecanismos de defesa são processos psíquicos inconscientes que aliviam o ego do estado de tensão psíquica entre o id intrusivo, o superego ameaçador e as fortes pressões que emanam da realidade externa.
Devido a esse jogo de forças presente na mente, em que as mesmas se opõem e lutam entre si, surge a ansiedade cuja função é a de assinalar um perigo interno. Esses mecanismos entram em ação para possibilitar que o ego estabeleça soluções de compromisso (para problemas que é incapaz de resolver), ao permitir que alguns componentes dos conteúdos mentais indesejáveis cheguem à consciência de forma disfarçada.
No que tange ao fortalecimento do ego, a eficiência desses mecanismos depende de quão exitosamente o ego alcance maior ou menor integração dessas forças mentais conflitantes, pois diferentes modalidades de formação de compromisso poderão (ou não) vir a tornar-se sintomas psiconeuróticos.
Quanto mais o ego estiver bloqueado em seu desenvolvimento, por estar enredado em antigos conflitos (fixações), apegando-se a modos arcaicos de funcionamento, maior é a possibilidade de sucumbir a essas forças.
Anna Freud em "O Ego e os Mecanismos de Defesa" (1946) [1], formula a hipótese de que o maior temor do ego é o retorno ao estado de fusão inicial com o id, caso a repressão falhe ou os impulsos sejam intensos demais. Para manter o grau de organização atingido, o ego procura proteger-se da invasão das demandas instintivas/pulsionais, provenientes do id, e do retorno dos conteúdos reprimidos.
Assim, em "O Ego e o Id" (1923), Freud diz que a psicanálise é o instrumento que permite ao ego uma conquista progressiva do id.
A psicanálise visa uma transformação paulatina de maiores porções do id em recursos do ego, em seu propósito de tornar consciente o que é inconsciente. Assim, a mente poderá vir a encontrar soluções, previamente inacessíveis ao ego imaturo.
Os principais mecanismos de defesa são os seguintes:
1. Repressão - retirada de idéias, afetos ou desejos perturbadores da consciência, pressionando-os para o inconsciente.
2. Formação reativa - fixação de uma idéia, afeto ou desejo na consciência , opostos ao impulso inconsciente temido.
3. Projeção - sentimentos próprios indesejáveis são atribuídos a outras pessoas.
4. Regressão - retorno a formas de gratificação de fases anteriores, devido aos conflitos que surgem em estágios posteriores do desenvolvimento.
5. Racionalização - substituição do verdadeiro, porém assustador, motivo do comportamento por uma explicação razoável e segura.
6. Negação - recusa consciente para perceber fatos perturbadores. Retira do indivíduo não só a percepção necessária para lidar com os desafios externos, mas também a capacidade de valer-se de estratégias de sobrevivência adequadas.
7. Deslocamento - redirecionamento de um impulso para um alvo substituto.
8. Anulação - através de uma ação, busca-se o cancelamento da experiência prévia e desagradável.
9. Introjeção - estreitamente relacionada com a identificação, visa resolver alguma dificuldade emocional do indivíduo, ao tomar para a própria personalidade certas características de outras pessoas.
10. Sublimação - parte da energia investida nos impulsos sexuais é direcionada à consecução de realizações socialmente aceitáveis (p.ex. artísticas ou científicas).
[1] FREUD, ANNA - O Ego e Os Mecanismos de Defesa, Ed.ArtMed (2006)